segunda-feira, 9 de julho de 2012

Como vinho


Roger Federer, o maior campeão de Slam de todos os tempos, expandiu neste domingo a marca espetacular para 17 Majors vencidos. A marca veio em Wimbledon, com o heptacampeonato, igualando-se a Pete Sampras e William Renshaw em títulos, e de quebra, o suíço derrubou a marca do próprio Sampras de semanas consecutivas na liderança do topo, retomando-a depois de 2 anos de soberania de Nadal e Djokovic.

Posso afirmar que Federer é como vinho, quanto mais "velho", melhor. O suíço, que às vésperas de completar 31 anos, está numa idade em que tenistas comuns passam a ter limitações em seu jogo, como menor resistência física. Mas este não é um tenista comum. Ele é Roger Federer, multicampeão de Wimbledon, recordista de Slams e tudo mais. O suíço, apesar da qualidade do seu jogo ter caído um pouco, devido ao seu talento, ainda possui jogo suficiente para bater de frente contra qualquer jogador do circuito. A conquista se torna ainda mais espetacular devido ao fato de que o suíço vem sofrendo com dores nas costas há um certo tempo, o que aparentemente causava limitações ao seu jogo. Mas o suíço viu no saque uma solução para este "problema"...

Na Grã Bretanha, a final de Wimbledon era tratada como final de Copa do Mundo. Os britânicos tinham a esperança de ver um conterrâneo conquistar o título do torneio tenístico mais tradicional do mundo. A espera já dura 76 anos, desde Fred Perry, em 1936... Andy Murray fazia um grande jogo, até venceu o primeiro set, mas não foi suficiente para derrotar o monstro suíço do outro lado. O escocês perdeu sua quarta final de Slam, a terceira para Federer, mas mostrou que está mais próximo do que nunca para vencer um destes pela primeira vez. Seu treinador, Ivan Lendl, curiosamente só venceu seu primeiro Slam após perder as quatro primeiras finais, se aposentando com 8 títulos de Majors.

Após o fim de jogo, o placar apontava 4/6, 7/5, 6/3 e 6/4 para Federer. Murray começou mais agressivo, chegou a abrir 2/0, mas o suíço conseguiu reagir, empatando em 2/2. Empatados em 4/4, Murray conseguiu nova quebra e largou na frente em 6/4. O martírio britânico parecia se aproximar do fim. Só parecia...

Num segundo set marcado por muitos break points desperdiçados pelo escocês, e pela superação do suíço em alguns momentos, o tenista de Bottmingen igualou o placar em 7/5.

O terceiro set foi interrompido pela chuva... A chuva, que causou muito rebuliço durante todo o campeonato, com a insistência da organização em fechar o teto somente em caso de chuva, mesmo com a ameaça desta, e atrasando a conclusão de muitos jogos, e para alguns, mudando a história de outros. O jogo voltou após 40 minutos, tempo necessário para cobrir o teto retrátil da Quadra Central. Quando a bola voltou a rolar, o então hexacampeão de Wimbledon voltou melhor. No sexto game, sendo agressivo no segundo saque do adversário, Federer, após ver Murray chegar a 40/0, igualar- se no game, desperdiçar 5 break points, enfim conseguiu a quebra. Abriu 4/2, não olhou para trás e fechou o set em 6/3.

No quarto e último set, o aproveitamento de Murray nos saques havia caído. A torcida o apoiava mais do que nunca. Mas Federer não se intimidava... Uma quebra a favor do suíço foi suficiente para fechar o jogo em 6/4, e desabar na grama sagrada, como já havia feito outrora. O suíço quebrava mais um recorde de Pete Sampras, o de semanas consecutivas na liderança. Antes, já havia derrubado o número de Slams do americano.

Que fique claro que o título do post, como vinho, é para se referir que, como vinho, o suíço se conserva com o tempo, e não como uma forma perojativa de dizer que este está velho, está em decadência... Neste campeonato, precisou virar jogos com o coração...

Se me perguntassem se Federer venceria algum Slam depois dos resultados recentes, diria que não. E aqui, respondo o por quê. Rafael Nadal e Novak Djokovic vinham ganhando tudo desde o Australian Open de 2010, jogavam num nível tão absurdo que fizeram as últimas 4 finais de Grand Slam, um feito inédito no tênis. Federer, que desde aquele ano, já tinha feito sua história no tênis, naturalmente poderia até mesmo se aposentar, já que poderia ter sua motivação reduzida, já que havia ganho tudo que podia, e também deveria cumprir a função de pai. Mas, ele ainda estava lá, mostrando que ainda tinha mais a mostrar...

Percebo muitas fãs de Nadal, Djokovic e Federer alegarem que seu ídolo poderia ter alguns Slams a mais se "não fosse aquele outro adversário", até mesmo usando adjetivos pejorativos para chamar o outro. Nadal impediu títulos importantes de Federer, Federer impediu títulos importantes de Nadal, Djokovic impediu títulos importantes de ambos. Mas, o fato é que a carreira de todos os três tenistas são interdependentes. Certamente, os inúmeros jogos disputados entre os três, lendas deste esporte, fazem destes jogadores melhores, buscando maneiras absurdas de "virar" um jogo praticamente perdido, usando-se de um mental sólido para "intimidar " o outro, fazendo jogos espetaculares, memoráveis, como a final de Wimbledon 2008, a semi do US Open ano passado. A posição no ranking é consequência do nível absurdo que esses 3 jogadores possuem. Se pudesse, o número 1 do ranking seria dividido entre os três. Estes possuem todos os méritos para ficarem por lá. Mas, como não é possível, quem está no topo, por um mísero devaneio, pode perder este posto por um tempo, até recuperá-lo... E este "revezamento" aparentemente está longe de ter um fim. E a rivalidade ácida entre os fãs deste trio fantástico parece seguir pelo mesmo caminho...

E que o exemplo dos ingleses, mesmo após o titulo do Federer, e a continuação da "seca" de ver um conterrâneo vencer WB, estes mostraram bastante respeito com o suíço, ao contrário de certos franceses que produzem comerciais de gosto duvidoso a respeito de espanhóis...

3 comentários:

  1. FEderer jogou muuito esse slam. Vamos ver aora no US open...cada um ganhou seu torneio aonde é mais forte. Djokovic no AO, nadal no RG e federer em WB....talvez o federer tenha um pequeno favoritismo no USo, se bem q o Djokovic anda muito bem nas HARDS

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  2. Muito bom o texto, Gabriel, assino embaixo. Só a conta do último título britânico que saiu errada. Abraço! Gustavo Loio

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