quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Crítica de "Star Wars - A Ascensão Skywalker"





Há algum tempo, numa galáxia nada distante, no ano de 1977, George Lucas nos apresentava a Star Wars, chamado simplesmente assim na época do lançamento. Um filme de baixo orçamento, que havia criaturas estranhas, sabres de luz coloridos, uma Força com inicial maiúscula e um vilão que se tornaria um dos mais icônicos do cinema, com posteriormente, talvez, o maior plot twist de todos os tempos.

A saga chega a sua terceira despedida, com a primeira sendo em 1983 com Retorno de Jedi fechando a saga original de Luke Skywalker, e a segunda em 2005 com A vingança das Sith contando as origens de Anakin. E, dessa vez, infelizmente, o resultado é decepcionante.
J.J. Abrams, que havia feito um trabalho excelente em “Despertar da Força”, apesar de homenagear demais o quarto filme, retorna a direção e peca por mostrar apenas o que os críticos do ousado “Os últimos Jedi” queriam ver, desconstruindo elementos estabelecidos por Rian Johnson, e em certa cena, deixando escancarado que “não é bem assim que se faz”. Inclusive, uma personagem que foi apresentada lá é praticamente descartada aqui sob uma justificativa estúpida. O filme anterior tem suas falhas, mas é muito bom no geral, pois levou a um caminho inesperado.

Temos uma história muito corrida, com soluções apressadas que carecem de um desenvolvimento melhor, com o retorno do Imperador Palpatine, já mostrado nos trailers (bebendo direto da fonte do agora considerado Star Wars Legends), que até funciona em partes, mas não da maneira que se desenvolve, assim como o destino de alguns personagens que são tão bizarros que fica difícil de acreditar.

Um elemento muito importante estabelecido por George Lucas no terceiro filme também é banalizado aqui, sendo usado inúmeras vezes num verdadeiro “tira casaco/bota casaco”, tirando qualquer peso dramático e impacto nas cenas em que ocorrem.

O trio principal Daisy Ridley, John Boyega e Oscar Isaac mais uma vez funciona muito bem como Rey, Finn e Poe, respectivamente, esbanjando carisma, e no caso da protagonista, tem um desenvolvimento satisfatório, com a esperada revelação do seu parentesco, apesar de algumas incongruências. Adam Driver continua muito bem como o multifacetado Kylo Ren, mas seu personagem possui um final que soa como anseio para atender os fãs mais histéricos ávidos por um detalhe que nunca mereceu se concretizar. Ian McDiarmid retorna com todo o seu talento para reviver o Imperador, uma presença sempre marcante e ameaçadora. Os personagens clássicos como Chewbacca, R2 e C3PO possuem uma participação maior, sendo mais uma vez uma dose na medida certa de nostalgia.

Há muitas homenagens e fans services que funcionam, como o retorno a lugares clássicos da franquia, mas há momentos que ultrapassam o limite do bom senso e se torna puro roteirismo, tendo até uma referência clara a um filme bastante recente, da própria Disney, e outros que são um ode a “O Retorno de Jedi”. O ritmo também é um problema, pois o filme salta de um lugar para o outro nos dando pouco tempo para absorver a inúmera quantidade de informações (inclusive algumas são jogadas já no letreiro inicial).

Talvez o que mais se haja a lamentar neste filme tenha sido a partida precoce de Carrie Fisher, a eterna Princesa Leia, que obrigou a produção a usar imagens de arquivo dos filmes anteriores e escrever um roteiro por cima disso. Infelizmente, sua participação, apesar da merecidíssima homenagem, se torna genérica e bastante desconexa.

Também o General Hux, de Domnhall Gleeson, um personagem forte e consolidado nos anteriores, é aproveitado de uma maneira tão vergonhosa aqui que merece uma parágrafo a parte, de tão absurda que soa a justificativa para tal.

Não posso esquecer também de mencionar um romance que havia potencial para ocorrer entre dois personagens, mas faltou determinação (ou houve medo de represália) aos produtores para que isso acontecesse, e acabou que vimos o primeiro beijo gay da franquia, mas de um forma deslocada que tira qualquer peso para o ocorrido.

Houve sim, uma ascensão Skywalker, para quem carrega o seu nome, mas a saga como um todo ficou estagnada, por medo de seguir um caminho ousado e para agradar fãs mais conservadores. Uma pena, pois a balança não se equilibrou, e pendeu pro lado negativo.

Nota: 5