Se você
está planejando adentrar na sala de cinema na expectativa de que vai ver mais
um filme assustador, com mortes sangrentas, sustos deliberados e uso abusivo de
CGI, passe longe! “A Bruxa” é um terror de arte, no qual vai soltando elementos
no decorrer da trama, até chegar a um clímax apavorante, assim como vimos nos
clássicos “O Exorcista” e “O Bebê de Rosemary”.
Estamos
na Nova Inglaterra, EUA, em 1630, onde uma família camponesa muito pobre vai
morar nos arredores de uma floresta, e seu filho caçula é seqüestrado. Esta
família, formada por fortes valores cristãos, atribuem o desaparecimento a uma
bruxa que vive na floresta.
O longa
acerta em representar muito bem a época, seja nas vestimentas ou na linguagem,
com o uso de palavras em desuso como “vós” e “sois”. O diretor estreante Robert
Eggers, com um orçamento de apenas US$ 3,5 milhões em mãos, e que foi premiado
no Festival de Sundance, prefere se utilizar da luz natural e de velas nas
cenas, dando uma fotografia limpa e um tanto sombria à noite. O elenco, então desconhecido, possui atuações surpreendentes, em especial de Anya Taylor Jay,
que interpreta Thomasin, e Harvey Scrimshaw, o garoto Caleb, que nos entregam
atuações perturbadoras, como se fossem veteranos no gênero do terror.
Com uma
narrativa lenta, o que pode incomodar quem está acostumado a filmes como
“Invocação do Mal”, por exemplo, o diretor vai explorando aos poucos a
convivência da família, onde a fé exacerbada acaba culminando em um série de
acontecimentos que mudará o rumo desta para sempre. Até um certo ponto,
suspeitamos que a bruxa não é real, até chegarmos a uma reviravolta na trama e
tudo ficar claro (ou nem tanto assim).
Há
poucas cenas assustadoras de fato, mas o suspense está sempre presente, seja na
floresta, ou até mesmo dentro de casa, naquele clima melancólico de um jantar a
luz de velas, e muitas vezes pelo silêncio total ao redor da casa.
Realmente
existe uma bruxa na floresta? O que é o pecado e quais as consequências de cometê-lo, do
ponto de vista de uma simples família camponesa do século XVII? É por esse meio
que o filme é guiado, deveras ignorante, mas totalmente pertinente com a época,
visto que a Idade Média e a Inquisição ainda era algo recente, e alguns anos
adiante ocorreu o julgamento das Bruxas de Salem.
Os
minutos finais são simplesmente apavorantes. Tudo foi bem construído até chegar
ao clímax, e este te fará ficar grudado na cadeira, apenas apreciando o
desfecho desse excelente filme, que, repito, não é para um público qualquer. Se
você está familiarizado com Regan MacNeill, com o vampiro Nosferatu e outros
filmes de terror antigos, seja bem vindo, o velho terror ainda vive! Você
certamente verá o melhor filme de terror em muito tempo! E se você tiver uma casa no campo e vir um bode andando por aí, recomendo não trazê-lo para casa...
Nota: 9