segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Como da última vez


O ano era 2005. O espanhol Rafael Nadal, então top 40, e pouco conhecido no circuito, iniciava uma arrancada como poucas antes vistas na ATP. Na Costa do Sauípe, triunfou no Brasil Open daquele ano, no que foi o primeiro de muitos outros títulos que ainda viriam, inclusive seu primeiro RG meses depois, e a consequente chegada à vice liderança do ranking.

Estamos em 2013. Dessa vez, a cidade é outra, São Paulo, mas o mesmo Brasil Open. O agora multicampeão Rafael Nadal disputava apenas o segundo torneio no ano, após 8 meses parado devido a uma lesão que o deixou fora de todo o segundo semestre de 2012. Vinha do vice campeonato em Viña del Mar, e buscava na maior cidade brasileira voltar ao (habitual) caminho dos títulos, e por que não, simbolizar um novo começo em sua carreira.

Polêmicas com superlotação do ginásio, irregularidade nas quadras e reclamações com a bola utilizada à parte por enquanto, o já considerado Rei do Saibro triunfou, empurrado por uma apaixonada torcida brasileira que provavelmente o fez se sentir jogando uma Copa Davis.

A altitude da cidade somado ao fato de ser uma quadra indoor, Nadal teve dificuldades de adaptação a quadra no início do torneio, pois estava em condições muito mais rápidas que a do torneio no Chile que havia disputado na semana anterior.

Por isto, o espanhol teve de superar os adversários, a quadra e o sempre incômodo joelho, vítima da tendinite, que o fez abdicar do torneio de duplas.

Passou com dificuldades que normalmente não teria na maioria dos jogos. Com sua movimentação comprometida e revés, e ainda sem a confiança em dia, poderia ter saído derrotado contra Carlos Berlocq, mas o adversário sucumbiu sacando em 4/5 no 3º set. Contra a zebra Martin Alund, também perdeu set, mas se impôs no último set e chegou a decisão. O mesmo admitiu que nas semis foi quando sentiu mais dores, e neste dia foi realmente quando apresentou seu pior tênis no campeonato.

Então, chegou a grande final. O adversário era David Nalbandian, curiosamente seu parceiro nas duplas, ex top 3 e que tinha 2 vitórias sobre o espanhol em 6 confrontos. Para a alegria dos fãs e para o bem do tênis, foi quando jogou melhor, se movimentou melhor, jogou mais solto, mais agressivo, e isto se refletiu no placar do 1º set: 6/2.

No segundo, o argentino voltou melhor, mais agressivo, e rapidamente abriu 3/0. Mas, Rafael Nadal mostrou por que tem um mental diferenciado, correu atrás, empatou em 3/3, destruindo o adversário mentalmente. Depois disso, Nalbandian cometeu um festival de erros, viu seu adversário vencer mais 3 games seguidos, e conquistar o bicampeonato do Brasil Open.

Sensacional a expressão de Sebastian e Toni Nadal, pai e tio de Rafael, respectivamente. Ambos, que sempre foram contidos nas suas comemorações, desta vez estavam bastante emocionados, assim como o espanhol, refletindo sobre os duros meses que esteve longe dos holofotes, dando mais um grandioso exemplo de superação como poucos. Como em 2005, talvez tenhamos presenciado um novo começo na carreira do espanhol. Foi o 51º título na carreira do heptacampeão de Roland Garros, o 37º no saibro.

O próximo compromisso do atual número 5 do ranking será Acapulco, ATP 500 a partir do dia 25. Lá, teremos a presença de David Ferrer, dentre outros tenistas bem rankeados, e vamos ver até onde o espanhol poderá chegar desta vez. Depois, tem no calendário os Masters de Indian Wells e Miami, disputados em quadras rápidas, o que não seria a melhor opção para este no momento, e acredito que só deverá voltar mesmo em Monaco. O espanhol, apesar de tudo, analisará sua situação após Acapulco.

Sobre as polêmicas do torneio

Provavelmente tivemos ingressos vendidos em quantidade superior ao de assentos existentes no Ginásio do Ibirapuera. O resultado: espectadores sentados nas escadas, até mesmo, lamentavelmente, durante a final, onde desembolsaram cerca de 300 reais para prestigiá-la. Também, tivemos telespectadores invadindo a seção reservada à imprensa. Sobre as condições da quadra, a organização do evento alega que não teve tempo suficiente para "montar" a quadra, já que o Ginásio é usado geralmente para jogos de basquete, vôlei e futsal por exemplo. Bom, que resolvam isto para o próximo ano. Não pude presenciar o torneio ao vivo, mas vi relatos que dentro do ginásio fazia um calor absurdo, outro ponto a se lamentar.  A bola, a princípio, era leve demais, e não favorecia a troca de bolas.

Algo bastante errado, a meu ver, foram as vaias a alguns tenistas. Apesar da torcida brasileira estar corretamente insatisfeita com Thomaz Bellucci, que todos sabemos ser um bom jogador, mas incrivelmente instável no quesito mental, pois venceu um jogaço contra Isner numa hard indoor na Davis, e na outra semana vence apenas 5 games numa partida e é eliminado de forma melancólica jogando no seu país, devemos respeitar todos os tenistas. Em nenhum outro lugar do mundo tenista algum é vaiado, mesmo que seja seu compatriota e perca por 6/0 6/0. Acho que alguns precisam de umas aulas de etiqueta...

Que algo assim não se repita nos grandes eventos esportivos que estão por vir...

Tricampeonato de Bruno Soares

Ao lado de Alexander Peya, o brasileiro conquistou pela 3ª vez o Brasil Open. Este reclamou bastante do fato de ter sido "escanteado" para a Mauro Pinheiro durante toda a semana, mas certamente ter jogado a final na quadra principal fez a grande diferença, com a torcida empurrando bastante a dupla. Foi o 7º título seguido do brasileiro, que comprova sua grande fase, e até o momento mantém o sonho de disputar o ATP Finals em novembro.

Adeus de Ricardo Mello

Ricardo Mello foi por algum tempo o tenista número 1 do Brasil. 3 vezes semifinalista do Brasil Open, sendo derrotado em 2005 por Rafael Nadal em um jogo memorável, pendurou as raquetes após ser derrotado por Martin Alund na primeira rodada. Seu melhor ranking da carreira foi o de número 50, jogando a Copa Davis pelo Brasil em 2005, 2006, 2007 e 2010. Seu único título ATP foi o de Delray Beach, em 2004, tendo vencido também 15 torneios Challengers. Sua melhor participação em um Grand Slam foi no US Open 2004. Aos 32 anos, se aposentou com 146 partidas na carreira, sendo 58 vitórias e 88 derrotas, acumulando mais de 1 milhão de dólares em premiação. VALEU RICARDO!
Rafael Nadal, com 18 anos, levantando seu troféu do Brasil Open 2005, na Costa do Sauípe.

Um comentário:

  1. Muito bacana, Gabriel. Assistimos ontem, mesmo fora da sua melhor forma, Rafael Nadal se impondo com sua garra e seu mental. Entendi que, quando ele está com menos dor o melhor do seu tênis vem aparecendo gradativamente. Tenho fé que depois dessas duas semanas e uma pausa para descanso, sua recuperação seja cada vez melhor. O tênis agradece, Vamos Rafa!

    Quanto ao torneio, eles mostraram tudo o que não se deve fazer em um grande evento. São inúmeras falhas, os ingressos sem numeração, climatização, vestiários, catering, quadras sem condições de treino, a longa premiação, ao imenso número de patrocinadores na dita premiação, etc., e por fim, a falta de um manual de boas maneiras em um jogo de tênis - manifestação entre os pontos, flashes, vaias....um horror!

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